domingo, 28 de dezembro de 2008

A ti, meu querido Porto...





Carta aberta ao Futebol Clube do Porto

Que fique bem claro! …TU deste-me sempre mais do que aquilo que eu te dei….
Obrigado por me fazeres feliz…Obrigado por me fazeres chorar…
Eu não tenho aspirações a fazer uma prosa bonita…eu quero lá saber das virgulas ou da concordância frásica… eu não pretendo fazer amor com as palavras!!! Eu quero é que os meus dedos escrevam o que a alma exige.…E neste momento parece que estou a escrever um ditado…Eu não penso no que escrevo…não sou eu que escrevo!
O canal que faz a ligação entre o meu coração e a minha mão, encarrega-se disso…
Eu detesto frases feitas. mas…eu sem ti não era eu….Não era, de todo….


Obrigado Madjer….
 Tens noção do que significas para mim? Imagina aquilo que sentes pelo Alcorão, multiplica-o por mil e….esquece! …mesmo assim não ias, sequer, chegar perto… 

Obrigado à dupla Ribeiro Cristóvão e Miguel Prates pelo "poema" mais bem conseguido e mais melódico que alguma vez ouvi……” lá vai Frasco, Juary, pode ser o golo é golo…”...(atentem na polissemia e na suavidade da aliteração...)

Obrigado Costinhapela maior catarse desportiva da minha vida….

Obrigado João Pinto…. por reunires um pouco de todos nós e seres esse Todo em que nos revemos de forma tão “absurdamente verdadeira” …Obrigado por seres o PORTO

Obrigado PAI…és o MELHOR e mais apaixonado adepto de todos…

DizPaizão…aquilo que o Porto não fez por nós!!…os abraços que trocámos, as lágrimas que partilhámos…os momentos genuínos que vivemos….Obrigado por seres o Meu Pai e teres tido a irresponsabilidade  de me teres levado às Antas aos 3 anos de idade….prometo que vou seguir esse mau exemplo quando tiver um filho… Obrigado PORTO…Por tudo o que fazes ao meu PAI….

Obrigado Antas…como me posso esquecer de ti? Tu esquecias-te do Pavão?? Ou do Oliveira?? Ou do Cubillas??....não me parece 

 Lembro-me do fascínio que exercias em mim….Lembras-te como o Shakespeare descreveu o magnetismo que pairava entre o Romeu e a Julieta?? Se te lembras, esquece….o nosso encanto era tudo menos teatral…. Nós somos a prova de como as paixões não tem, necessariamente, de ser efémeras! 
Uma coisa te garanto….das cerca de duzentas vezes que te visitei, raras foram as vezes em que não me proporcionaste “orgasmos” intensos e “espasmódicos”… e eu sei que tu também não fingias…Aliás, como podias? Nunca vi ninguém com o coração tão perto da boca…Nem sequer no Bolhão o vernáculo era tão autêntico…Obrigado pela gratuidade dos actos… 


Não sinto nostalgia de ti, Antas ….(porque nostalgia só se aplica à Pátria) e, cá entre nós, que ninguém nos ouve… ( o que não deixa de ser verdade..:) ) eu estou-me marimbando para a Pátria…O Porto é a minha verdadeira Pátria…. é supérfluo refutarem este preceito! Podem falar de regionalismo bacoco e impeditivo ao meu progresso como ser pensante, de horizontes afunilados, até de complexo! não quero saber! Não se esfalfem com dissertações sobre falta de patriotismo nem se esgotem em alegações sobre a minha pretensa penúria intelectual…não se cansem, porque me parece óbvio que isso é óbvio…Mas eu quero lá saber!…

O que sinto é saudade!!…mas aquela saudade que dói!!…é boa, mas dói…a saudade que, apesar do Presente ser brilhante e o Futuro promissor, fica, assumidamente, presa ao Passado ...Uma saudade capaz de inventar lágrimas dançantes....uma saudade que não precisa de imagens de arquivo para ter uma recordação fotográfica....


Tu levas-me ao pranto quando olho para o local, onde majestosamente te erguias, e não te vejo…ou melhor…eu ainda consigo ver os rostos, o esbugalhar dos olhos, sentir os cheiros, ainda consigo ouvir aquele bruaaaaa de cada vez que a bola “beijava” o poste e teimosamente não entrava, ainda contemplo com exactidão aquele senhor que vendia chocolates na arquibancada..…e, acredites ou não, ainda vejo “inquilinos” tão antigos como o Futre, o Gomes, o Mlynarczick, o Kostadinov, o Magalhães, o inimitável João Pinto, o Rabah Madjer, o Domingos, o Baía, esse pássaro azul e branco, o Deco…e…eu e o meu Pai….todos numa simbiose perfeita…



Antas, Tu és um Domingo à tarde com sol de Inverno…Tu és um golo do Gomes…Tu és o meu pai a levar-me pela mão…Tu és a multidão num grito só de todos nós….
E eu jamais me irei referir a Ti no passado…

Dragão...não me esqueci de ti!...Mas tu sabes que as mulheres mais bonitas, não tem, necessariamente, de ser as mais interessantes!!! O charme e a classe necessitam de um período de maturação...e eu não acredito que um grande amor possa ser substituído de um dia para o outro!! Melhor dizendo...eu não acredito que um grande amor possa ser substitúido...


Meu caríssimo Porto…. por melhor que conseguisse articular pontos e vírgulas, por mais que as minhas palavras espelhassem o mais alto conhecimento nas ciências desportivas e humanas … mesmo assim, esta espécie de homenagem continuaria mutilada. Faltaria sempre a dimensão do olhar, da relação…E eu não posso travestir o que sinto por ti, tentando defini-lo….Isso nunca

2 comentários:

Sérginho disse...

De cada vez que se vejo esses vídeos, ainda choro... e são poucos os que entendem o porquê. Tu és um do que melhor o entende!
Talvez não devesse fazer isto, mas aqui vai. Este poema é de Anthero Monteiro, um amigo e poeta, que o escreveu "decalcado" do Cântico Negro, do José Régio. Como nunca me pediu para fazer segredo dele, pela primeira vez "passo-o" a alguém que o sentirá da mesma forma que eu.

Cântico Azul

«Vem para aqui» - dizem-me alguns com olhos de carneiro mal morto,
estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem p’ra sair do Porto.
Eu olho-os com olhos de desprezo
(Há, nos meus olhos, um carvão aceso)
E fico ao chão bem preso,
E nunca vou para ali…

A minha glória é esta:
Ficar a olhar a azul imensidade!
Não ir atrás de ninguém!
- Que eu amo o azul até à eternidade
Desde o dia em rasguei o ventre a minha Mãe.

Não, não vou para aí! Só vou p’ra onde
haja azul , muito azul com listas brancas
E se assim com firmeza meu gesto vos responde,
Porque me repetis: «vem para aqui»?
Prefiro à Luz a Rua Escura e à Madragoa
o meu Bolhão e à Mouraria de Lisboa
eu prefiro, carago, andar por aí à toa
A ir para aí…

Se vim ao mundo, foi
Só p’ra gritar Porto! Porto! até ao infinito,
E voltar a soltar o meu grito de boca
escancarada!…
Tudo o mais que disser não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me fareis promessas, convites e
ameaças,
para me ver mudar as minhas convicções?...
Corre, nas vossas veias, só o sangue
mourisco
E vós amais o que não presta!
Eu amo o Azul e Branco, o Risco, a Festa,
E o fogo que sai da goela dos Dragões…

Ide! tendes águias já com gripe,
Tendes árbitros fidelíssimos,
Nunca tendes sumaríssimos
E tendes penálties, Calabotes e largos prolongamentos.
- Eu tenho a minha bandeira azul!
Ergo-a bem alto
e desafio o Sul
E, todo ufano, canto vitória
aos quatro ventos…

O azul e o branco é que me guiam, mais
ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que ganho sempre a minha aposta,
Nasci do amor que há entre a vitória
e o Pinto da Costa.

Ah, que ninguém me venha com tais más intenções!
Eu sou apenas dos Dragões!
Ninguém me diga: «Vem para aqui»!
A minha vida é um Lucho que me arrebatou.
É uma festa na Quaresma que me animou
É uma Baía onde o meu barco para sempre
ancorou…
Eu sei bem onde estou,,
Eu sei bem p’ra onde vou,
Sei que não vou para aí!

Anthero Monteiro

João Nogueira disse...

..Bem...Grande Anthero!!

Este é, possivelmente, o aspecto mais transversal das nossa vida...
Já mudámos de certeza, de convicções, de pontos de vista, de posturas...mas o Porto e o FCPorto são um Dogma nas nossas vidas...