quinta-feira, 29 de outubro de 2009

"WE´LL ALWAYS HAVE PARIS..."




A vida tem-me sorrido…com dentes branquinhos e hálito a menta! Esforça-se, inclusive, por usar fio dental…

Estou-lhe grato e juro que se não fosse a cifose precoce, fazia-lhe uma vénia…

Tem-me soprado metáforas em bolas de sabão! Algumas, vêm com pontos de interrogação, outras chegam aos “esses” e trazem reticências! Outras, lamento, mas “escarrapacham-se” na palma da minha mão e nunca as chego a entender…
Outras, as melhores, chegam a dançar a valsa, num aviãozinho de papel, de nariz empinado e asas de Cristo-Rei…

A vida provoca-me… olha-me nos olhos e cruza as pernas devagarinho…e eu, mesmo fingindo não olhar, atiro a caneta ao chão e espreito...mas não consigo ver mais do que umas meias de renda e um joelho “ao léu”…hidratado, no entanto!

Diz que quero tudo muito rápido…respondo-lhe que não sou de ferro!

Parvinha, desmaquilha-se e põe a nu as imperfeições…recorre ao chavão, básico e previsível…”quem tudo quer tudo perde”… por um triz, não digo…“vale a pena arriscar”… perco, momentaneamente, o interesse…são subtraídos 5 centímetros ao meu baixo-ventre em 7 segundos, e tudo devido ao excesso de auto-estima da “senhora”…

Católica! Ateia! Neoliberal! Intervencionista! Grega! Troiana!
É assim a vida…
Ninguém pode levar a sério tal personagem!
Eu levo…mas só porque sou da “laia” dela!

Divirto-me a tentar construir esse puzzle de sete milhões e quatrocentas mil peças…Monto, desmonto, farto-me…atiro as peças contra a parede! Há peças que nunca copulam! Mas recomeço sempre...
Sei que, para já, nunca o irei acabar! Nem quero…Quero ter a sensação do dever incumprido. Fica para amanhã…ou para depois!…do Natal!

No fundo, o que quero mesmo, é continuar nesta mesa do “Majestic” a “trocar olhares” com “ela”, enquanto alguém toca piano…
Posso esperar! Para já, um joelho é óptimo… (relativamente óptimo, vá lá!)

A espera custa…mas é a melhor parte…o “antes”, geralmente, é melhor que o “durante”, portanto, para já, vou sonhando como ela será nua…(e aí, vou agradecer o esforço, mas vou dispensar o fio dental…).
Não ouse negar, leitor…o sonho é a nossa realidade mais perfeita…

A vida…
Os “boateiros” dizem-me para duvidar dela… com baba no canto da boca e com um altifalante colado ao ouvido de quem passa, alcunham-na com um dissílabo seco…ouviram dizer que faz “voluntariado” em casas que deixam os lampiões acesos à noite…
...Duvido sempre de quem não refere a fonte…

E a vida, apesar de se refestelar no divã de Freud, apesar das cápsulas de "ben-u-ron e brufen", não se vende…deixa-se conquistar… Vão precisar é de bem mais que um raminho de rosas!

Mimem-na! Peguem nela ao colo…segurem-lhe nas axilas, atirem-na ao ar e voltem a apanhá-la…se acharem necessário,encostem a boca à barriga dela e façam barulhos estranhos...ela precisa! a vida está na pior fase da vida dela!…a puberdade! As espinhas! A mensagem que nunca chega…

Às vezes, confesso, também perco a paciência com ela…está a mudar muito depressa…e mal! Apetece abaná-la e mandar-lhe um berro…! Dar-lhe uma reguada bem dada, até...
Mas…não posso tratar mal quem me trata bem!
Nunca hei-de esquecer que no dia em que nasci, foi ter comigo ao berçário, apertou-me a bochecha, e disse...
- Benvenuto!! ...Espera só para veres o que tenho para ti…

Tinha-me feito o favor de me moldar duas pessoas a barro…

mio papà e mia mamma

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

PARA TI..."COSTUREIRINHA DA SÉ"




“ Juro-te, amor…um dia ainda vamos “esviscerar” as “calles” de “La Habana” num Cadillac antigo…Só os dois!

Promete-me apenas que não vais olhar só com os olhos…Os olhos tem astigmatismo e cataratas… vêem mal ao perto… e ao longe!! Os olhos, no limite, podem ser um andaime, dão uma ”mãozinha”!
Já viste o que era olhar para o mar de Albufeira sem o nariz… ou para o Bolhão sem o coração! É que, pessoalmente, a compra e venda de chicharros e carapauzinhos de rabo na boca não me fascina por aí além!

Noutro dia, enquanto seguia, “ao relenti”, a rota do fumo que saía do fornilho do meu cachimbo, jorrei, em todas as direcções, as linhas com que gostava de costurar a minha vida… Foram só uns rascunhos, amor…ainda por cima feitos com uns “hieróglifos” deprimentes, riscados numa folha murcha e cheia de “rugas”… Vou contar-te na mesma…

Lembras-te do complot das gaivotas quando, no início, te tentava seduzir com correntes filosóficas descartáveis e com a erótica simbiose entre adjectivos e substantivos? Sábias, e com comichão a trovadores sem talento, esperaram pacientemente pela parte do beijo para me "despacharem", lá do alto, um "souvenir" que escorreu em linha recta, fluindo do meu olho esquerdo ao meu lábio superior, fixando-se, finalmente, a noroeste do caroço de Adão …
Bem feito, o léxico não precisa de violino a acompanhar…

Ou daquela vez em que, em Viseu, eu, com a obtusa e compulsiva necessidade de mostrar conhecimento, te disse que a estátua que vias era de Viriato? …tu, desconfiada e sabedora do meu diletantismo novo-rico, foste, contra a minha vontade, conferir…era de D. Duarte!!!!... Lembro-me daquela espécie de “orgia dos sentidos” que te invadiu…espasmos e soluços de gargalhadas que quase te levaram a fazer a espargata nos paralelos…Primeiro, corei…depois…corei outra vez…!

Fazer a “viagem” ao teu lado é serpentear o destino…é estender-lhe a mão e retirá-la quando ele a tenta apertar…é deitar-lhe a língua de fora, fazer-lhe um manguito e fugir a rir com a mochila às costas…Mas fugir devagarinho, a passo!
Ele é um “padamão”, um “domingueiro”, que anda sempre em primeira…
...Mostrem-lhe os caninos ou os molares, isso basta…

O destino, o fado, o barco negro, as tábuas, os machados que talham os caixões…
Isso não é para nós…não ejaculamos medo, nem deixamos que nos ponham um xaile nas costas…
Continuaremos a nossa “excursão” à procura do cor-de-laranja, do amarelo-torrado e do azul bebé...do ziguezague, do drible, do passo de dança, da "orquestra de baquetas” a tocar no peito …no fundo, disto mesmo…das METÁFORAS, amor…
A vida, sem figuras de estilo, é uma repetição anafórica…chata!! E nós, como somos muito novinhos e idealistas, legalizamos a personificação e despenalizamos a perífrase…A vida é para ser ornamentada. Desenhem-lhe “coraçõezinhos” na capa, estrelas na lombada e tulipas no prefácio…
É que…às vezes, para chegar a Roma, fica mais perto ir à Índia, passar pelo Equador e dar um saltinho à Islândia…

Espero que tenhas gostado…avisei-te da fraca qualidade da caligrafia e das “disfunções erécteis” do papel… Mas…são estas as linhas com que me quero coser...Conto contigo e com o teu sapatinho de bailarina... para, juntos, darmos ao pedal ao mesmo tempo…