sábado, 23 de maio de 2009

PICADILLY CIRCUS, OBRIGADO PELO NEVOEIRO...



Continuo a preferir as cassetes e os discos! Prefiro puxar para a frente e para trás, ouvir o barulho do rebobinador…Também prefiro o aspecto estético, confesso! Continuo a escolher ver os mesmos filmes que via contigo! Ainda ontem “voltei” ao Quénia e à nossa “Africa Minha”…A Meryl Streep está sempre igual! Eu não deixo que ela envelheça…Dizem-me que já tem rugas! Não acredito…

Amor, ainda ouço a “Unchain Melody” e, pelo menos uma vez por dia, coloco a agulha no gira discos para ouvir a tua música…
”When I need you
I just close my eyes and Im with you,
And all that I so want to give you
Its only a heartbeat away

Desde que partiste que o Leo Sayer é quase a única pessoa que ouço! Mas, sabes…às vezes, mesmo fechando os olhos, não te vejo…Tenho tanto medo de esquecer o teu rosto! Ontem sonhei contigo, mas tinhas outra cara! Hoje, vou-me recusar a adormecer…Não é que isso constitua qualquer desafio! Eu não durmo há 17 anos!
Para ti foi mais fácil! Aliás amor, chego-te a invejar a sorte! Deixámos ambos de viver, é um facto, mas eu morri mais do que tu…
Tu não te lembras de mim. Se calhar, hoje és uma adolescente do Ohio que sonha entrar em Direito em Harvard…!Quem sabe…! Deus é tão estranho que isso não me espantaria…

Mas eu…eu continuo aqui! Na mesma casa, na mesma cama e abraçado aos mesmos lençóis…o teu cheiro já não existe…Nem a tua almofada tem o teu cheiro …Gastei-o todo em inalações ininterruptas …Mas, não te preocupes, o resto continua no mesmo sítio! …Vai tudo permanecer como estava quando foste…quando te foste, meu amor!

Eu estou velho…o espelho reflecte um demente! Ontem parti-o…Parti o espelho e parti o quadro do Monet…não o suportava mais, amor! Nada ajuda…nada aligeira! Tu tiraste-me tudo!
Pouco saio à rua…quando saio levo o quispo que me deste…sempre com o carapuço na cabeça…seja Julho ou Janeiro! Uma vez por mês vou ao supermercado e compro tudo de uma vez…Já não conheço ninguém da nossa rua…eu também só olho nos "olhos" os paralelos!
Às vezes, de longe a longe, ainda falo com o Pedro, mas não deixo que ele entre cá em casa…Ficamos a falar com a porta entreaberta e com o cadeado como muro de Berlim…Nunca mais ninguém entrou na nossa casa!
Foi-me diagnosticada disrupção...sabes o que é?

Amor! Amor, não é um nome comum! Amor não se classifica morfologicamente…Amor és tu, amor!
Noutro dia, há quatro anos, li outra vez o Hemingway…(o que passámos para comprar “As torrentes da Primavera”, lembras-te?) e a propósito não sei de quê, ele dizia que já não conseguia chorar…que não tinha mais lágrimas!! Eu tenho…mesmo com os comprimidos, eu tenho…Muitas! Uma enxurrada delas… Choro todos os dias…é uma rotina que quase me faz sentir-te…às vezes, quando choro com muita força, ouço-te a abraçares-me e a dizeres que isto vai passar…falas tão baixinho! Mas não vai, nem a falar baixinho…Não vai…

Desculpa, amor…voltei a fumar! Fumo 70 cigarros todos os dias há 6205 dias…Mas não há problema! O tacabo faz mal ao coração, mas eu já não tenho um!
Lembras-te quando me disseste que só me voltavas a beijar no dia em que a minha boca deixasse de saber a “Marlboro Lights”?
Apetece-me parar de escrever!
A dor é sempre a mesma, mas às vezes dói mais! Só não paro porque acabei de te ver nua…esta fotografia devia-me fazer sorrir, mas os meus maxilares endureceram, foi-lhes ceifado o nervo, não permitem expressão, estão algemados, presos numa cela sem luz e sem espaço…
Apanharam perpétua...

Tirei-ta naquele hotel de Canterbury…Querias a todo o custo fazer amor ali…mesmo em frente à Catedral de Kent!! Sua devassa...

Inglaterra foi a viagem da nossa vida, não foi?...(Nós nunca fomos muito "praia"!)
Devorámos Óscar Wilde ao "som" de um chá na "Headington Library", fomos a Wembley ver a final da taça e tu festejaste um golo do City em plena bancada do United... em Buckingham, na changing of the guard , fizeste um manguito à Rainha, fugimos da polícia, corremos contra a mão e só nos encontrámos na estátua de Eros , em Picadilly Circus!
Apareceste de repente…
Esventraste o “smog” e correste até mim debaixo dos fios de chuva …Que bem que te ficava o cabelo “britanicamente” molhado!! beijei-te…com lábios, com língua, com saliva, com nariz! sabias a suor! Um suor doce e fresco!
Abracei-te. O Big Ben parou.
A vida eras tu…

Não aguento, amor! Isto é um simulacro de inferno!…Não há Al Bertos ou Herbertos, não há Sade nem Anaïs, caranguejolas ou pedras filosofais...Sou personagem de uma tragédia de Ésquilo. Morro em Tróia na fogueira de Hefestos...De trovador do nirvana a poeta do caos foram sete segundos!!
Que se foda a poesia!
Que se foda tudo, amor!


Não tenho mais forças! O comprimido apenas cria uma falsa ilusão de tranquilidade! E como é falsa, eu percebo-a…Só me enganava no início...Chega a doer mais com anestesia…
Se me visses agora não me vias a mim! Porque eu não sou este! Este é um doente…cheio de tosse e de expectoração...Um doente com os dedos amarelos, com areia nos dentes, com a cara encorrilhada, com fado nos olhos…uns olhos que são um poço vazio! Não há nada lá dentro…nem íris nem córneas…só um balde desce de vez em quando para depositar lágrimas! Eu cheiro mal…
Vou parar para fumar, porque os doentes fumam muito…nem sabem que estão a fumar, mas fumam…cigarro atrás de cigarro, até que o filtro não caiba mais nos dedos, amarelos e imundos!
Fumo de tudo...menos "Marlboro Lights"...
…Morri no dia em que morreste! Vomito todos os dias"! Tu morreste, morreste mesmo! Não tenho fé, não tenho religião, não tenho Deus…por isso, não tenho a ilusão de te voltar a ver! Se tivesse isso da fé…já não estava cá! Aliás, estar ou não estar cá é igual, porque se estou cá, não sei… eu acho que estou algures...a sudoeste de um sítio onde não se vê a Inglaterra...
Isto não era para ser assim, amor! Não era, pois não?

sexta-feira, 15 de maio de 2009

E a minha playlist é...

  1. Tom Waits- "Tom traubert blues"
  2. Tom Waits- "Martha"
  3. Tom Waits- "Take me home"
  4. Jorge Palma- "A gente vai continuar"
  5. Jorge Palma- "O meu amor existe"
  6. Jorge Palma- "À espera do fim"
  7. Pablo Milanes- "Iolanda"
  8. Dire Straits- "Why worry"
  9. Otis Redding- "I´ve been loving you"
  10. Nick Cave- "Into my arms"
  11. Elis Regina- "Romaria"
  12. Simon and Garfunkel- " Bridge over troubled waters"
  13. Rui Veloso- "O prometido é devido"
  14. Xutos & Pontapés- "Circo de Feras"
  15. Guns N´Roses- "November Rain"
  16. Queen- " Bohemian Rapsody"
  17. Pink Floyd-" Wish you were here"
  18. Supertramp- "Breakfast in America"
  19. Adriano Correia de Oliveira- "Trova do vento que passa"
  20. Bruce Springsteen- "The River"

IDEIAS DESCONEXAS...( sem pontas por onde se lhe peguem)

Está prometido! Um dia destes, acordo e vou até ao Utah…Assim mesmo, sem nada pensado! Vou e pronto…

Confesso que, 29 anos depois, e por mais realidades que tenha experimentado, ainda não tenho uma posição formada em relação a mim…Só por milagre é que as minhas relações inter pessoais não são desastrosas…Já as intra são o equivalente à faixa de Gaza….tanto faço de “Hamas” como de “Fatah”

Uma vez disseram-me que eu tinha uma “coisa” chamada lateralidade cruzada, que associada a outra, chamada “disortografia”, era, com algum grau de certeza, um fortíssimo indício de sobredotação…Estranhei!
Por norma, um sobredotado é um sujeito macambúzio, que ao ano e meio de idade já soletra "otorrinolaringologista" ( fazendo a divisão silábica de forma sublime, chegando ao cúmulo de separar os 2 “erres”) e aos 4 já ganha 15 euros por hora, a dar explicações de técnicas de tradução de espanhol, com sotaque peruano… E eu só reúno consenso na parte do macambúzio…
Andei uma semana a desconfiar que era sobredotado…
No final da minha semana como sobredotado comecei a ganhar alguma vaidade dessa minha recente condição… O meu ego mantinha-se imune às pressões do, também meu, “super ego”, e era frequentemente visto em ambientes de diversão nocturna com o meu “id”…
A minha autoridade intelectual chegou ao ponto de olhar com desdém para algumas análises do “Le Fígaro” sobre temas tão "inespecíficos", como a cisão dos atmos ou a escassez de sacristãos no Burkina Faso!

Nessa semana, eu fundi-me com o Shakespeare e com o Einstein, fundindo-me também, com essa maravilhosa mulher, que toda a gente gostaria de ter fundido, que era a Norma Jean…( falta um elemento conector à frase, mas confesso que nesta crónica não irei valorizar “questiúnculas” semânticas) …
Durante 7 dias, fui um génio…Contudo, o meu ostracizado "super ego", que não suporta a felicidade alheia, fez questão de me trazer de volta à minha “jumenta” existência…o meu Q.I, afinal, pouco passava dos 100…
O que não retira a palavra "inteligente" do meu mundo…tem é um contexto diferente…Sou inteligente…para um burro!

Sou um ser dicotómico...
Repare-se que, até no léxico, sou “sui generis”…Em vez de dicotómico, por que não, confuso? É ou não menos… dicotómico?
Há que me dar valor…é que o leitor não imagina o quão difícil é viver comigo!
Mas eu sou um excelente mediador e lá me vou moldando a mim mesmo, fazendo-me umas cedências aqui e acolá…Eu sou uma união de facto "monossexual"…Estou junto comigo há quase 29 anos! Uma vida...
Por altura das bodas de prata "aquilo" esteve tremido...mas cheguei à conclusão que ainda era por mim que a minha "aorta" bombeava,e que, eu e eu, teríamos, forçosamente de saber viver com feitios opostos...

Se calhar, em vez de cansar o leitor com metáforas, vou-lhe propor o seguinte exercício...metafórico!!
Comece por fechar os olhos…deixe que a minha imbecilidade o invada…vá lá, são só alguns segundos! Acho que não há perigo de contágio! (De qualquer forma, previno-o para dar especial atenção ao primeiro verbo da oração anterior…)

Agora, imagine um sujeito com o cabelo impecavelmente penteado, vestido com um blazer "Armani" cinza escuro, uma camisa branca com botões de punho, uma gravata de seda azul turquesa, uma mala de pele e…uns calções de praia verdes com tubarões azuis, umas pernas peludas e uns chinelos de meter o dedo!
De meter o dedo, caríssimo leitor…!
Nas orelhas, uns “phones”! No ouvido esquerdo ouve-se Fado de Coimbra, no direito, Tokio Hotel…
Esse sujeito, subentendido, que só tem predicado porque está sempre a fazer perguntas ao verbo, sou eu…Um fulano com uma fixação perversa pelo complemento directo!

Gastos os 1000 caractéres de estupidez que me auto concedo, passemos, então, à outra parte da bipolaridade da minha escrita…

Eu gosto muito da vida! E não tenho quaisquer problemas em dizer que tenho muito medo de morrer…muito, mesmo! Não há espiritualismos ou mezinhas que apazigúem este “cagaço”…
Mas do que tenho mesmo medo, é de ver a vida por um canudo!
Isso é que não! Perder o gozo de viver, nunca…
Contudo, os cânones actuais, com as inevitáveis visões projectivas da vida, tornam-na muito pouco romântica…demasiado planeada...(com Pitágoras a substituir Afrodite no Olimpo, numa clara vitória dos "catetos" e da taxa "Euribor" sobre... o Amor!!) ...e, para mim, que sou um utópico ao quadrado, a vida e os dias de felicidade não se podem resumir à raiz cúbica de 365...
E não me venham com chavões do tipo “ epah, se a felicidade fosse uma constante, tu não a ias valorizar…”
Ia, ia, caríssimo leitor…
O leitor farta-se de rir?
Farta-se de fazer amor com a pessoa que ama?
Eu não…!
E se insiste em moderar a felicidade, proponho-lhe, por exemplo, o coito interrupto...Coite só um bocadinho de cada vez! Às pinguinhas...
E, por favor, não leia Ricardo Reis…é um apelo que lhe faço! Ele vai-lhe "copular" a mente com a mania que é possível amar de forma tranquila…!! É preciso "contracepção" literária com ele…pode não ter jogo de cintura, mas tem, definitivamente, jogo de palavras..."Index" com o homem...

Tenho medo de perder a boleia!! O meu polegar não é de fiar...
Contudo, posso sempre colocar outro dedo em riste se me disserem para ir com calma... para não arriscar...
E eu juro que, qualquer dia, em vez de fazer o mestrado, faço mas é a mochila ...! Esqueço-me da lamina de barbear e vou ao Utah conhecer os "mormons" vou à California dar um abraço ao Tom Waits e levar-lhe uma garrafa do melhor e mais "encorpado" Porto Vintage vou a Buenos Aires fumar um "Monte Cristo" com o neto do Guevara e a Villa Fiorito beber um mate de hierbas con el Pelusa Maradona vou tocar guitarra e cantar músicas de intervenção anti apartheid nas escadas pretas do Metro de Pretória vou a Liverpool juntar-me a milhares de "gargantas ruivas" e cantar com o accent da Margaret Thatcher o you ´ll never walk alone" vou a Porto Alegre ouvir um "cover" da Caipira Pira Pora da Elis Regina! ...e vou viver tudo isso da mesma forma com que (não) pontuei este parágrafo...sem ponto final, com pontos de exclamação de "boca aberta" e sem vírgulas...vírgulas e pontos é que nunca! Na viagem, viaja-se...não há tempo para pausas...
Ah! E no regresso vou a Paris...
Assim mesmo....a Paris, reticências.
E tu vens comigo...