sexta-feira, 3 de abril de 2009

OLD FRIENDS...



O leitor sabe que sou confuso… é uma evidência! Ia desafiá-lo a ler um qualquer post anterior para se aperceber disso…entretanto, a minha irmã passou pelo portátil, franziu a testa, e disse que um parágrafo era suficiente…
Podiam até ser palavras de circunstância…mas…ela é Psicóloga!

Antes de começar a escrever este texto, estava dividido entre abordar a situação actual da rede de transportes colectivos de uma ex República da União Soviética, que agora me falha o nome, ou, o não menos interessante fenómeno do diformismo sexual da plumagem do tentilhão, esse pássaro de pequeno porte da família dos fringilídeos…Eu compreendo que o leitor esteja impaciente para saber a duração do percurso da carreira 37 do autocarro que faz a ligação entre as cidades vizinhas de Karabogazkel e Byrdalik…mas… se calhar ficava para outra ocasião, ok?

Acabo de ouvir o “old friends” do Simon e do Garfunkel…e, por momentos, “volto ao liceu”…Lembro-me de todos…de todos os meus amigos que iriam ser sempre amigos! A estrada, por mais bifurcações que tivesse, nunca iria deixar que nos perdêssemos, que nos desperdiçássemos…
Como podia, se o “eu”, era, frequentemente, substituído pelo “nós”?

Por melhores pessoas que Hoje possamos ser, no liceu, éramos inevitavelmente melhores… (estou disponível para opiniões sociológicas contrárias…não estou é disponível para as aceitar …e poupem-me! Poupem-me, por favor, ao obséquio que gentilmente me julgam fazer, ao dizerem-me que preciso de me libertar do passado e viver alegremente o presente e dar, por exemplo, valor ao chilrear dos passarinhos... que são tão amarelinhos!! ( Se mo disserem, sou obrigado a pedir desde já desculpas por uma eventual indelicadeza…é que, além de pôr em causa a idoneidade da instituição onde se formou… vou ainda apostar que o Sr sociólogo passou a sua adolescência "enfiado" num quarto com cheiro a naftalina, “castanhamente” mobilado, a lutar com a antena da televisão a preto e branco, que não o deixava ver em condições o “TV Rural” do engenheiro Sousa Veloso…Tudo isto, acompanhado pelas suas duas tias bisavós...Verões incluídos )

Hoje, passados anos, eu perdi muitos amigos…posso-me sempre escudar na Língua Portuguesa, e nas suas ardilosas locuções, que aligeiram qualquer sensação de mau estar…“ são vicissitudes da vida...”, é um belo exemplo disso... ajuda a minimizar e não permite contra argumentação…
Fui, confesso, um mau amigo em muitas situações ( vicissitudes, meus caros)…imagine o caríssimo leitor, que cheguei a declinar um convite de aniversário, alegando estar, imagine-se, com uma intoxicação alimentar(?)…e o pior, é que esta escusa faz parte de uma panóplia, onde também estão incluídos falsos óbitos de familiares distantes que viviam a Norte de Manaus... Esta criatividade mental, aliada a uma expressão facial pesarosa, fazia com que ainda me desejassem as melhoras, ou, se fosse o caso, os pêsames…Que vergonha! …Sinto-me um palhaço (pobre)

A vida é assim mesmo…e velhos amigos chegam ao ponto de, frente a frente, cumprimentarem-se a medo ou virar a cara na esperança de não ser reconhecido pelo…amigo! Quando até os dois se sentem mal por disfarçar de forma tão descarada, lá aparece outra vez a Língua Portuguesa, com pérolas do tipo…” és tu, não és? ( lol, o gajo deve estar à espera que o outro diga “Não, não sou eu”…) ou, “ Estava-te a conhecer de algum lado” ( tipo, sei lá…da escola…fomos da mesma turma durante 12 anos, 9 dos quais partilhámos a mesma mesa, …se calhar é daí, não sei…)…Claro que surge sempre uma justificação pertinente para a demora do cumprimento “ Como estás com menos cabelo na parte lateral da testa tive dificuldade em reconhecer-te…eu sei que essa cicatriz enorme no queixo, que sempre tiveste, ainda aí está, mas sabes…como ficaste privado de alguns “filamentos capilares” , poucos diga-se, ainda hesitei…Mas a despedida é a parte mais engraçada de toda a conversa, que ambos anseiam que termine… “Temos de marcar um jantar” ( claro…podemos até já marcar a data…4 de Junho de 2047 às 9h...em ponto)



Pior do que nunca mais ver um amigo, é vê-lo anos mais tarde e perceber que era preferível não o ter visto! Não porque ele estivesse mal, ou com melhor aspecto que nós…mas…o leitor entende-me…há coisas que gostamos de preservar, tal qual eram…
Ou, se calhar não…mas eu avisei que era confuso…e logo no primeiro parágrafo (ainda por cima ancorando-me na opinião de uma psicóloga…:)

Eu, que não sou nada sentimentalão, quero apenas dizer que tenho muitas saudades dos meus velhos amigos…

6 comentários:

Sérginho disse...

Sabes, às vezes quero comentar os teus posts e bloqueio. Penso e penso vezes sem conta no que me apetece escrever e não sai nada. Este é um desses momentos...
Nem me lembro quando nos conhecemos, creio que foi no karaté, nos anos 80. É estranho dizer "nos anos 80", porque já foi à quase 3 décadas atrás. Por isso, talvez seja um desses velhos amigos...

Luis Araujo disse...

Caro escritor:

Escrever um comentário aqui não pode fugir da interpretação "a minha escrita é melhor que a tua"... e até sou gajo para dar uma de sociólogo a que pedes "poupem-me"! mais do que vir responder, faz-me reflectir, ah... mas lembro-me já escrevi e reflecti (http://nothingh.blogspot.com/2008/01/ao-meu-melhor-amigo.html), a prespectiva é algo diferente, e não pretendo com isto medir qual de nos os dois tem a filosofia ou reflexão "mais barata" ou "menos barata" ou whatever... passa lá e diz-me qualquer coisa... deixas-te o bichinho de escrever um novo!

João Nogueira disse...

Um abraço aos meus "old friends" aqui de cima...
Luis, a perspectiva é parecida! Muito parecida...o estilo é que difere...
Ambos, de forma mais ou menos axiomática, explorámos a inevitabilidade de as coisas não voltarem a ser como eram...e o liceu, podendo não ser o melhor periodo das nossas vidas, é, incontornavelmente,um local povoado de caras, de cheiros, de episódios... (e até de cortes de cabelo) que se "tatuam" na pele para sempre...

As "bifurcações", às vezes, "desperdiçam-nos"...
O meu texto, além de outras coisas, é uma espécie de despedida tardia da adolescência...um desprender forçado, de quem puxou a corda até ao limite e se recusou a perceber que quem puxava do outro lado tinha uns bícipes maiores...

Sérgio, sim, foi no karaté, entre "gehait sukis" e "maiguerís", há mais de 20 anos...

Abraço

Athena 2009 disse...

mas sabes umas coisa? Existem outras vezes que ver e reencontrar um old friend é vitaminar a alma..é que não quero ser quem fui, nem reviver o que vivi, mas quero nunca me esquecer, fazer das minhas memórias passos de sabedoria e buscar nos acontecimentos que me foram mais queridos aconchegos para a alma e esperança...E enquanto eu for capaz de olhar para ti e sorrir enquanto me recordares aquela infância em que ingenuamente experienciei o mundo que pensava existir, e à minha maneira gargalhei de felicidade com cada vitória e chorei desalmadamente com cada fracasso hiperbolizado, aí meu amigo orgulhosamente poderei afirmar : fazes parte da minha infancia, fazes parte da minha vida.

João Nogueira disse...

Joana, também concordo...
A perspectiva deste texto é muito discutível. Tenho noção disso...
O texto generaliza. Eu quis generalizar.
É óbvio que reencontrar amigos é, por norma, muito bom. Mas...pessoalmente, acho que, por mais que nos reencontremos, nunca mais nos voltamos a "ver".
O meu "eu" do Liceu ficou lá.A vaguear entre a "faculdade" e o pavilhão F... sossegadinho, a arranjar as repas. É um fragmento de mim.
Os amigos que aqui menciono, são esses...E esses, por melhor que sejam, também ficaram lá...Continuam a fazer projectos para a faculdade, a pensar no vestido que vão levar ao baile e a pensar no quão difícil será o "desmame" dos amigos que vão ser sempre amigos...
Quanto ao mais, inteiramente de acordo contigo.

Sofia disse...

Passado quase um ano voltei a ler e decidi fazer um comentário, ainda que não tão erudito como os vossos (aliás estou um pouco constrangida de o fazer por isso mesmo) mas achei que devia.... Aliás, estou um pouco como o Sérgio.... outra vez sem palavras.
Mas.... recentemente voltei a reencontrar a minha "AMIGA" desses bons velhos tempos - a Sara. A vida voltou a cruzar-nos profissionalmente à um par de anos atrás... Mas as coisas nunca voltaram a ser como eram... E porquê? Será que ao crescermos perdemos a loucura sã desses tempos??
Enfim... escrevo para dizer que, não sabendo bem o porquê, voltei a sentir saudades desses tempos. Dos momentos passados com o Sérgio a escrever a nossa publicação da "Faculdade", sinto saudades da dupla "Tico e Teco", do que passei com o Luis (e do que fiz o Luis passar, coitado...) Dessas e de muitas mais coisas... Contudo é difícil de me lembrar de todos e não tenho a sensação que vos tenha marcado de alguma forma.
"Perdi-vos" porque a vida me levou por outros caminhos...
Continuo sem saber o porquê desta nostalgia...
Espero num futuro breve vos encontrar!