domingo, 20 de novembro de 2011

É por aqui...








Voava só para te olhar. Cheio de vertigens, abria os braços e lá ia eu. Passava o norte. E o centro. Chegava ao sul, fechava os olhos e fosse o que Deus quisesse. Podia ser que não partisse o molar e o siso inferior, na aterragem. Valia a pena...

Pessoa "x", aliás, pessoa "y", a quem vou dar o nome de Ana, estou em crer que tenho as tensões altas por tua causa. O médico disse que era do sal. Está enganado. É estagiário.

Ana, a vida é nada. ( Já é alguma coisa. Antes ser nada do que não ser coisa nenhuma.)

Mas…

Tu, com as tuas vogais fechadinhas e com a tua mania estranha de dizeres os “V´s” nas palavras onde se devem dizer os “V`s”, deste-me asas.

Calma, não sou anjo. Os anjos não têm sexo.


O teu Deus – aquele em quem não acredito, mas de que estou sempre a falar – anda a brincar à cabra cega comigo. Mandou-me para “aí” para me mostrar que eu pertencia “aqui”. Diz-Lhe, por favor, que aos trinta e tal anos, há outras brincadeiras que aprecio mais. Jogar ao elástico, por exemplo! Ou ao um dois três macaquinho chinês!


Ana, embora seja raro, cheguei a uma conclusão. E por mais que Ele troveje, sabe que tenho razão: Eu não sou “daqui” nem “daí”. Muito menos de “acolá.” De acolá, jamais”.


Eu sou de Ti.


Repara, eu sou mesmo de Ti.


E aí, que é em Ti, há sol e vento moderado de sudoeste. Aquele fresquinho de noite de verão. Em Ti não há golas altas nem camisolas grossas que picam um indivíduo.


Não sou natural de Ti, não senhor!



Nasci aqui. Neste ponto cardeal, talvez ocidental.


Bússolas e escalímetros é mais contigo! Todavia -porque todavia é uma palavra que acresce alguma formalidade a uma prosa que usa crista e chinelos de meter o dedo-, as tuas coordenadas eu conheço. De cor!

Temos a nossa folhinha de oliveira, meu Amor. Guarda-a bem. A minha nunca mais vai sair de onde está...

Quando chego a Ti, ponho chicla de limão na boca, deito cheirinho no pescoço e levanto as golas do casaco. Azul, sempre. É o que dizem...

Quando chego a Ti fico com taquicardia. Fazes-me mal ao coração. Trinta e sete mil trezentos e trinta e três batimentos cardíacos por minutos não é saudável por aí fora. Faz melhor comer legumes e frutinha…


Mas…


Pouco me importa.Ou melhor, não me importa nada! Ele que bata. Não te sei amar devagarinho. Não te sei amar assim-assim. Não te sei amar como um domingueiro. Ana, raios me partam se alguma vez te amar na "medidinha" certa.Tu avisa-me. Raios me partam!


Não tenho tempo. Tenho de correr. Estou atrasado. Ainda há tempo, mas... não te posso amar devagar. Isso não. É a minha forma de nos respeitar!


Posso até falecer amanhã. Se bem que era aborrecido, na medida em que há coisas de que gosto mais. Falecer envolve logística e burocracia. E confesso que papelada não é coisa que adicione centímetros ao meu baixo-ventre. Aliás, subtrai.


Mas sabes, ia ter pena! De mim. Quero viver-Te!


Tu, que estás sempre alerta, escuta. Trouxeste-me de volta o natal. Em Agosto. Em Belém. Não naquele onde nasceu, por obra e graça do Espírito Santo, o teu Jesus.


Aquele Belém em que tu, com meio pastel de nata enfiado na linha que separa os dois dentes da frente , me disseste que eu te fazia rir.


Grato. A ti e ao Martim Moniz! Parecendo que não, dá-me jeito que, sendo, não sejas Moura. Há procedimentos que nos iam atrapalhar. E eu nunca fui bom a francês....


Sabes Ana, que estás longe, que estás perto, que vives em mim, em todos os meus andares, somos sem sermos para ser. Não éramos suposto. Somos por lapso.


Mas somos. E ser é raro. Tão raro como o teu clube ser campeão.


Fico com asma quando me venho embora de Ti. Aqui, de onde sou natural, diz-se sufeca.


Lembras-te do senhor que pica os bilhetes no comboio me ter ralhado por eu não respeitar as regras de segurança e ter aberto as portas para te dar mais um beijo quando o comboio começava a deixar a gare?


Perguntou-me se tinha a noção do que tinha acabado de fazer.

A seguir perguntei-lhe eu se ele tinha noção do que tinha acabado de dizer.

Eu sei, amor, eu sei que ele estava a fazer o trabalho dele, mas passou-me pela cabeça agredi-lo. Mas depois passou-me pela cabeça que, se calhar, não o devia agredir por ele estar a fazer o trabalho dele.


Optei por não o agredir.

Gosto de ti.


Não te preocupes com o caminho. É por aqui. Dá-me só a tua mão. 


Oupa! Vamos.


Sem comentários: