segunda-feira, 1 de agosto de 2011

CARTA A CAROLINA...


Estás a ver as ondas que tocam na areia molhada e depois vão devagarinho de volta para o Oceano? Se calhar é só a mim, mas parece-me sempre que estão a pedir socorro. Enfincam as unhas na areia mas perdem sempre. Ninguém as acode, coitadas!


Desculpa-me a imagem. É trágica de mais. Nem tu és a areia nem eu as ondas. No máximo, ter-me-á passado pela cabeça que pudéssemos ser o salva-vidas um do outro. Repito. No máximo.

Adiante.

Escrevo-te porque sim. Haverá outras razões, se calhar.

É Agosto, não as vou desmontar. Nas férias sou só um guardador de rebanhos. Ajudo o pastor nas folgas dele.

Vou brincar um bocadinho à literatura. Senta-te e masturba-te com o meu talento. Escuta. Mas com olhos de ver. “ O amor é uma merda”.

Gostaste do pragmatismo? Sabia que sim.

Por esta luz que me alumia, Carolina: Tu foste a viagem que eu sempre quis. Em ti subi à Torre Eifell, em ti marquei um golo de pontapé de bicicleta ao Benfica, em ti fui Nobel da Paz, em ti, sua giraça, flutuei nas águas quentinhas de Mombassa. Com bóias, claro.

Depois veio a parte feia.

A aterragem.

Foi difícil, sim senhor. Falhou qualquer coisa. Não sei o quê ao certo. Não sou muito bom a mecânica.

Sabes, cheguei a ser mendigo de ti. Era como se estendesse a mão quando tu passavas. Pedia-te esmola. Em amor.

Dizias que não podia ser. Para eu ir trabalhar que tinha bom corpo.


Já não sinto a tua falta. Despeço-me de ti aqui. Olha vê:

“ Carolina,


Espero que esta carta te encontre bem.


Já não me dói a garganta quando engulo. Os teus abraços já não me arrepiam. Já ouço a faixa 9 sem me lembrar de ti.


Posto isto, e pelas razões supracitadas, o meu coração manda-me dizer que precisa de outro desafio.


Mais informo que foi um prazer.


Os meus melhores cumprimentos.
Tiago




A carta vale o que vale. As palavras valem o que valem.

As palavras têm o nariz grande. Aldrabam. São prostitutas. Gemem e a seguir perguntam-te se vais demorar muito.

De ti, além do cheirinho a hidratante depois da praia e outras infinitas coisas, levo taquicardia. Grato pelos três mil batimentos cardíacos por minuto.

Carolina, que rimas mais ou menos com tangerina, o amor é muito bom rapaz, mas não aprecia que o façam esperar ao frio. Há coisas de que gosta mais.

Estou triste. Tenho tiques, agora. Olho duas vezes para trás a cada cinco segundos. Dizem que é dos nervos.

Mas não. Pode ser que andes por aí. Nunca se sabe.

Gostava de te entender. Sei lá, podias ser como a área de um triângulo. Salvo seja. Mas eras mais fácil. Base vezes altura a dividir por dois e estava encontrada a solução. Carolina é igual a “a” mais “b” ao quadrado.

Assim não. Tens demasiadas equações, fracções, números primos e complicações.

Desancorámos um do outro. Foste sempre de nortadas e trovoadas mas eras o meu Oceano Pacífico.

Sou um capitão de merda. Perdi-me no mar alto e só conheço a tua rota.



Alto…

O mar está a respirar fundo devagarinho. Adormeceu. Shhh. Vou falar baixinho e pôr-me a andar antes que acorde.

Alto, outra vez.

A olho nu, parece-me uma mulher. Glúteos em forma de Pêra rocha, formas convexas onde tem de ser. E formas côncavas também onde tem de ser.

Coloco os binóculos.

Falso alarme…

Afinal não. É falso o falso alarme. Graças a Deus, ou ao primo afastado Dele, sou destrambelhado. Os binóculos estavam do avesso.

Confirma-se o olho nu. Adiciono-lhe só um olho azul. Ou verde. Ou cinzento. Dois, aliás.

Os meus - castanhos, raiados, caídos, pequeninos, murchos – ficam, em zero vírgula treze segundos, erectos.

Quer-me parecer que já não estou cativo de ti. Dá-me, de facto, essa ideia.

Rebobino a minha vida contigo, enquanto remo com os meus bíceps finguelas. para a ver ao perto.

Choro como um menino. Pior, choro como um adulto que parece um menino muito pequenino. Baba, ranho, outra vez baba e outra vez ranho.

Lembro-me outra vez dos teus dentes. Amo-os. Lembro-me de ti apaixonada e dos teus lábios besuntados de straciatella e pinacolada. Amo-os. Lembro-me dos teus seios bonitos de qualquer coisa copa B. Amo-os. Lembro-me do teu nariz, treze vezes mais pequenino do que o meu e bem mais redondinho. Amo-o. Lembro-me dos teus dedos, dos teus medos, dos teus segredos. Não faleço porque não calha…

Amo-te Carolina. Amo-te Carolina. Amo-te Carolina.

Amo-te mas remo. Cresce-me o músculo, remo com mais força, aos ziguezagues.

Está a trovejar. Vou-me embora de ti.

Desta vez não deixo o Código Postal. Desta vez, não…

Lembras-te da metáfora mal conseguida do início? Aquela estapafúrdia, da areia e do mar e não sei quê? Já não peço que não me deixes cair. Já não enfinco as unhas nos teus dedos. O meu chão, agora, é de algodão.

Ainda não. Mas há-de ser.

Sou capitão de mim mesmo. Eu é que mando.

Estou à frente do meu barco. De pé. Com as costas direitas.

Tu foste o melhor que me aconteceu.

Foste.

3 comentários:

Alexandra disse...

Olá João! Parabéns pelo texto. Parece escrito por mim, lol, ou melhor revejo-me na sua história.
Obrigada, continue a remar eu também continuarei!
Alexandra

João Nogueira disse...

Alexandra, muito obrigado.

Emanuel Ribeiro disse...

Parabéns!! :D Continua moço que eu gosto!