segunda-feira, 27 de setembro de 2010

TIAGO, DEUS E HEATHER

Como é que é, “pá”!?

É assim que gosto de te chamar. É gíria, por um triz não é vernáculo, não me importo.

Tu não és “fofa”, “môr”, cara-linda ou “flor”, sendo tudo isso. Tu és, “pá”, e está muito bem assim!

Espera tudo de mim. Tudo, menos um léxico mesquinho, que fala mal dos outros. Pelas costas.

Deus não me perdoa. Quer, à força toda, que acredite Nele . Decidiu, agora, passados 39 anos e treze dias, dar-me vida. E uma vida…

Agradecido, senhor Omnipotente. A idade não passa por si…

O cenário: Londres. As personagens: Eu e Tu. O narrador: Deus.

Heather, por nossa causa, Deus chorou. Já viste?

Não acho que sejamos feitos à imagem de Deus. Tu, sim. Na eventualidade de Ele existir, Ele fez-te.

Os teus pais são castos, está na cara. Foi Deus que te fez, pá.

Por isso chorou. Duas vezes.
Primeiro, chorou porque tu te apaixonaste por mim…Ele queria o melhor para ti. Um médico, sei lá.

Ele não queria acreditar quando nos viu com as mãos entrelaçadas. Passou-lhe pela cabeça tornar-se ateu. Agnóstico, vá lá, para não ser tão radical.

Mas Deus, louvado seja o Senhor, tem sentimentos. E um Deus também chora…

Ninguém nos resiste, Heather…

Não somos uma história de amor. Uma história de amor costuma ter um “the end”…Por isso, esquece!

O que nós temos não se rotula. Temo-nos um ao outro. É isso que temos.

Leicester Square, Santíssima Leicester Square que estás nas alturas, curvo-me perante ti. Hei-de percorrer-te de joelhos…Duas vezes. À chuva. Se for orvalho, melhor ainda.

Foi aí que vi a tua inglesíssima cara pela primeira vez. Mais inglesa era impossível, meu grande amor. Duas diferença apenas: Tu tinhas sal…e vinhas pela direita.

É impossível, eu sei. Ninguém se apaixona por ver alguém passar. Eu, sim.

Fui a Londres para me mentir. Ser mentiroso em Londres é mais chique.

Andava sozinho. Não como um cão. O meu olhar fazia mais beicinho …
Andava Triste. A garganta estava inflamada e o coração, outrora bichinho carpinteiro, dava ares de um padamão sem expressão.
Dava sinais vitais e pouco mais.

Mas tu sabes, Heather, no meio das centenas de omissões e das trinta mentiras com que me aldrabo, há sempre um bocadinho, muito pequenino, de verdade numa ou quatro.

Saí daqui, deste rectângulo que agora se escreve sem “C”, para te encontrar, sua agulha no palheiro…

Quando te vi, senti um “baque”.
 Tinha sido um paralelo, de vértices aguçados, que caíra do sétimo andar. Estava em obras. Caiu, de forma litúrgica , no meio de nós. Santificado seja…

A primeira palavra que te ouvi foi um “fuck”. Tão histérico, tão histérico, que deve ter acordado a Rainha!
Acalmei-te, num inglês de meia-tigela.

Disseste que não percebeste nada do que tinha dito, mas que tinham sido as palavras mais bonitas que alguma vez tinhas ouvido.
Fiquei na dúvida entre ficar lisonjeado ou não…

-Tiago.

-Heather.

-Nice to meet you, Heather!

-No, no. Not “Éder” .It´s Heather. You have to say the “H”.


À quinquagésima, lá acertei!

Fomos interrompidos pelo trabalhador, pedreiro ou carpinteiro, não sei, que, com as mãos como se estivesse a rezar, nos pedia desculpa...

Abracei-o, dei-lhe um beijo repenicado na testa e dei-lhe todas as libras que tinha. Ainda lhe disse Obrigado. Aliás, Muito Obrigado.

Riste-te com todos os dentes que tinhas. E tinhas todos…

Heather, rimas com vida. Por mais que digam que não…

Lembras-te da vontade que eu tinha de ir ao mercado de Portobello? Levantamo-nos cedo, saímos do Hotel, demos um beijinho e logo voltámos para de onde nunca deveríamos ter saído.
Fomos malabaristas, contorcionistas, berrámos interjeições e mudámos de posições.

Deus, que tudo vê, percebeu que aquilo não é pecado. É virtude…

Portobello fica para a próxima...

Heather, minha majestade, quero é estar contigo no quentinho, calçar-te os carapins nos teus pés pequenininhos e ouvir-te dizer, sonolenta, que gostas muito de mim. Isso chega-me.
Isso é tudo.

Quanto a Deus, agora, já somos amigos. Deu-me a tua mão e uns litros de água benta...

Chorou, claro, afinal és a menina Dele…

Heather, obrigado.

O Amor, essa fixação geográfica, na qual acabei de aterrar com pezinhos de lã, aceitou-me na terra dele. Seja bem-vindo quem vier por bem, disse-me...
Passei pela porta de embarque sem tirar as moedas do bolso, sem mostrar as malas e, vê lá a minha sorte, sem mostrar o passaporte. Disse-me, meiguinho, que terrorista, é todo o homem que nunca pensou desembarcar ali...Porque ali, nas chegadas, há sempre alguém à nossa espera…

2 comentários:

Anónimo disse...

Best(ial) Pá!!!
Ass: Anónima :)

Anónimo disse...

Ao ler este seu texto, recordo Séneca... é por não termos ousadia que as coisas são difíceis! Abraço :)